O MANTO DE PENÉLOPE: A CULTURA POLÍTICA DA LIBERTAÇÃO EM QUESTÃO
por Wagner Cabral da Costa*
“Eu liberto, tu escravizas”. Na perspectiva da história cultural, a narrativa das disputas e crises políticas do Maranhão contemporâneo parece um conjugar sem-fim do mesmo verbo, o “Libertês”, em todos os modos, tempos e pessoas. Como se desígnio divino (ou mediocridade humana) houvesse condenado a província a castigo idêntico ao de Sísifo (mortal que ousou desafiar a Morte), sentenciado por Hades (deus dos infernos) a repetir eternamente o mesmo trabalho improdutivo, carregando rochas montanha acima apenas para depois vê-las rolando montanha abaixo. E Sísifo recomeçava a mesma tarefa…
Essa repetição histórica proporciona uma estranha sensação de déjà vu, de já ter assistido ou presenciado os mesmos eventos, é bem verdade que em outros espaços, com outros sujeitos, e, às vezes, com o mesmo ator (de papel trocado ou não). Dessa maneira, a análise inevitavelmente relembra Karl Marx, quando afirmou, n’O 18 Brumário de Luís Bonaparte, que “Hegel observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceuse de acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”. Á luz da história regional dos últimos sessenta anos, até a observação de Marx pareceria insuficiente. Pois, como qualificar a conjugação pela 3a vez?
(…) Desse modo, a permanência do dialeto da Libertação corresponderia à continuidade da estrutura oligárquica patrimonialista, em que o dialeto seria uma necessidade do teatro do poder, sendo um ritual parricida a reafirmar periodicamente os fundamentos da identidade regional, evocando-os no contexto das querelas políticas e na constante reinvenção de uma tradição de liberdade fincada na história e no mito.
* Mestre em História e professor da UFMA. Agradeço as observações do amigo e prof. Dr. João Batista Bitencourt, que sugeriu a fundamental idéia-imagem de Penélope
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