Matéria no Valor Econômico - Sobre o Maranhão

Slogan traz Roseana como renovação do MA

Murillo Camarotto, de São Luís

Perto de completar um ano de volta ao poder do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB) começou a trocar as placas de publicidade do governo espalhadas pela capital, São Luís. Apesar dos nove anos já acumulados à frente do Palácio dos Leões e das quatro décadas que sua família manteve-se no poder no Estado, a filha do ex-presidente José Sarney passou a apresentar sua atual gestão sob a logomarca de "Novo Governo do Maranhão".

A nomenclatura, também presente em inserções na televisão local, é uma sugestão do publicitário Duda Mendonça, contratado para tentar dar mais um mandato à Roseana. Para isso, ele terá a árdua tarefa de convencer os maranhenses de que a governadora e sua família poderão, de alguma forma, trazer algo novo à política local.

Dentro dessa estratégia, um projeto de construção de 72 unidades de saúde já é a principal estrela do novo governo de Roseana. A governadora também quer mostrar aos eleitores que está recuperando rodovias estaduais e investindo em 500 novas viaturas para as polícias Civil e Militar, que passarão a circular em modernas caminhonetes japonesas.

Pouco foi aproveitado da gestão anterior, de Jackson Lago (PDT), cassado em abril de 2009 por supostas irregularidades na campanha. De acordo com o deputado federal Gastão Vieira (PMDB), ex-secretário de Planejamento de Roseana, somente o projeto PAC do Rio Anil, que está transferindo moradores de palafitas para apartamentos, foi continuado.

No caso das unidades de saúde, o governo de Roseana modificou significativamente o projeto de Lago, que era de erguer cinco grandes hospitais em regiões estratégicas do Maranhão. Para o ex-governador, as 72 unidades de saúde de Roseana, propagandeadas como se fossem hospitais, não resolverão o problema do grande fluxo de pacientes do interior que chegam todos os dias a São Luís em busca de tratamento.

Quando perdeu para Jackson em 2006, Roseana teve pela primeira vez a máquina estadual contra si. Agora, com o Estado novamente nas mãos, a governadora sabe que a mudança é o principal anseio dos maranhenses para a política local. Com a força da publicidade, ela tentará mostrar à população que representa a novidade.

E renovação é tudo que deseja o motorista Sérgio Luiz Cortes, o "Brasil", natural de Axixá (MA). Após enumerar muitas das mazelas vividas há anos pelo povo do Maranhão, ele diz não confiar em nenhum dos candidatos que tentarão o governo em outubro. Para ele, Roseana e Lago já tiveram suas chances e nada fizeram, enquanto que o deputado federal Flávio Dino (PC do B) não teria "força" para ganhar a eleição e, principalmente, governar.

Segundo a cientista política Arleth Borges, da Universidade Federal do Maranhão, o clamor popular por novos nomes na política tem uma razão simples: as quatro décadas de comando dos Sarney e os péssimos indicadores sociais do Maranhão.

O Estado tem o segundo pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país (2005), acima apenas de Alagoas. Também tem a segunda pior renda per capita (2007) e é o vice-líder em mortalidade infantil (2008). Detém ainda o pior déficit habitacional relativo do Brasil (2008).

"Do ponto de vista social e econômico, a situação do Maranhão é lastimável. E é natural que os Sarney sejam responsabilizados", afirmou a cientista.

De opinião semelhante, Flávio Dino escolheu os indicadores sociais para iniciar seu discurso a um barulhento grupo de estudantes, durante o último congresso estadual da União da Juventude Socialista (UJS), cujos líderes o apoiam. Adaptada ao público presente, a fala destacou o analfabetismo e a dificuldade dos maranhenses em chegar à universidade. Segundo Dino, um privilégio de apenas 5% dos jovens do Estado.

Enquanto falava sobre auto-estima aos estudantes, o candidato tentava equilibrar a própria confiança. Havia dois dias, Dino recebera a notícia de que não contaria mais com o apoio formal do PT do Maranhão. Enfadado, ele comparou a decisão do diretório nacional petista, que determinou apoio a Roseana, aos atos da ditadura militar. "A resolução foi um AI-5", classificou.

De acordo com Arleth Borges, a candidatura de Dino é a que tem maior potencial de crescimento, justamente pelo fato de o deputado ter mais chances de representar a novidade desejada pela população. O deputado afirma que é conhecido por apenas 48% dos maranhenses, enquanto que seus adversários são conhecidos por praticamente 100%.

Ciente disso, Sarney teria exigido o apoio do PT à Roseana, em uma estratégia para barrar o crescimento do candidato comunista. Sem o PT na chapa, Dino terá direito a duas inserções diárias de 2,5 minutos na televisão. Com o partido, cada inserção seria de seis minutos. "O prejuízo é real e inegável, mas não mortal", avalia o deputado.

Mesmo sem o tempo do PT na televisão, Dino tentará vencer a eleição com o discurso de que "o Brasil avançou e o Maranhão ficou para trás". O candidato lembra que os grandes projetos industriais instalados no Estado nos últimos anos, como a Alumar e a Vale, por exemplo, não se reverteram em benefícios sociais. "Eles (os Sarney) governam de costas para a população, com o discurso dos grandes projetos", alfineta.

A tese é compartilhada até mesmo por aliados de Roseana. Gastão Vieira discorda de que o Maranhão tenha "ficado para trás", porém admite que a população não se beneficiou do desenvolvimento econômico. "Faltou um pouco de visão dos administradores, que não tiraram a mais-valia suficiente dessas empresas para ser revertida em educação e saúde", afirma.

De qualquer forma, os novos grandes projetos anunciados para o Estado serão peça importante da campanha de Roseana. O principal é a refinaria premium da Petrobras, que será construída em Bacabeira, a 60 quilômetros de São Luís, um investimento de US$ 20 bilhões. A fábrica da Suzano Papel e Celulose, em Imperatriz (US$ 1,8 bilhão), e a termelétrica da MPX, na capital (R$ 1,8 bilhão), também serão amplamente divulgadas.

Além de convencer os maranhenses de que, desta vez, o desenvolvimento será compartilhado por todos, Roseana tem a missão de melhorar sua imagem, que ficou bastante arranhada com a volta ao poder mediante a queda de Lago. Seus próprios aliados têm percebido esse sentimento durante as visitas que a governadora, em campanha, tem feito ao interior do Maranhão.

"A sensação de golpe é muito viva na cabeça das pessoas", afirma Arleth Sales. O motorista Brasil confirma a tese: "Não adianta votar em ninguém. Se perderem, eles (os Sarney) dão um jeito para voltar".

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