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1 de Novembro de 2009 - 9h45

Livro ajuda a compreender sociedade brasileira à luz do marxismo

Em entevista ao Vermelho, o historiador Augusto César Buornicore fala sobre as ideias defendidas em sue novo livro, “Marxismo, História e Revolução Brasileira: Encontros e desencontros”. Lançada pela editora Anita Garibaldi e Fundação Maurício Grabois, a publicação reúne escritos que buscam uma compreensão mais profunda das contradições e da história do país à luz do marxismo.

Como surgiu a idéia de publicar um livro tratando de aspectos da história e da sociedade brasileira sob a ótica do marxismo e do leninismo?
Na década de 1990 ressurgiu, com redobrada energia, no interior da esquerda comunista brasileira, a necessidade de conhecer mais e melhor a nossa sociedade a partir da perspectiva histórico-crítica do marxismo. Um movimento importante que foi resumido na palavra de ordem “Marxismo mais Brasil”. Ele visava cobrir uma lacuna importante na formação dos militantes comunistas: o da articulação do instrumental teórico marxista e leninista, agora desprovido de sua carga dogmática, e o conhecimento do Brasil. Afinal, se queremos mudar uma sociedade é preciso que a conheçamos profundamente e o melhor instrumento para conhecer qualquer sociedade continua sendo o marxismo.

Você critica a antiga cultura comunista. Qual seria ela?
Nossa cultura era mais voltada para o conhecimento da história dos movimentos operário e socialista do outro lado do Atlântico. Os comunistas conheciam mais a história das revoluções européias, especialmente a russa, do que a própria história das lutas sociais ocorridas no Brasil. Nos nossos cursos, pouco espaço era dado ao estudo da formação econômica, política e social brasileira. Questões relativas à constituição e às peculiaridades das classes sociais, do Estado e da própria revolução burguesa no Brasil eram pouco tratadas.

Deve-se, então, abandonar os estudos das experiências internacionais ou relegá-las a um segundo plano?
É claro que não. As revoluções vitoriosas – russa, chinesa, cubana, vietnamita - e mesmo as derrotadas - muito tem a nos ensinar. Por isso, devemos continuar estudando-as. Nosso país não é uma ilha e os comunistas são os guardiões de tudo o que a humanidade produziu de mais avançado. Não somos e jamais seremos nacionalistas estreitos. Mas, esse conhecimento das experiências revolucionárias internacionais, embora importante, é insuficiente para que consigamos construir a estratégia adequada ao país e consigamos transitar ao socialismo.

Por outro lado, também, existe uma plêiade de notáveis historiadores marxistas que buscaram entender melhor a história desse país e deram grandes contribuições na construção de uma visão crítica sobre o Brasil. Por sinal, a maioria dele era ligada ao partido comunista.
Sim, isso é verdade. Diria mesmo que não somente entre historiadores ou sociólogos. Nas próprias fileiras do PCdoB, reorganizado em 1962, existiram aqueles militantes que dedicaram esforços ao estudo da história brasileira. Gosto sempre de citar o exemplo de Pedro Pomar que, na mais dura clandestinidade, escreveu “O povo conquistará a verdadeira independência” e “Em memória de Frei Caneca”. No campo acadêmico podemos citar os nomes dos comunistas Caio Prado Jr, Paula Beiguelman, Nelson Werneck Sodré, Jacob Gorender, Clóvis Moura entre outros. Cada qual, da sua maneira, ajudou a colocar sua pedra nesta complexa e nem sempre retilínea construção. Mas devemos dizer que eles tiveram sempre uma relação conflituosa com o Partido Comunista, ficando, em geral, relegados a uma situação secundária e periférica. Eram, muitas vezes, vistos com desconfiança.

Sei que você já falou várias vezes sobre isso. Mas, qual é o sentido da história brasileira?
O país que temos tem as marcas das lutas do nosso povo — dos negros escravizados, dos camponeses, dos operários, da intelectualidade progressista. Mesmo quando derrotadas elas ajudaram empurrar a roda da história para frente. Por isso, o sentido geral de nossa história é bastante positivo. Tomo a liberdade de concluir citando um trecho de um dos artigos: “A Independência, por exemplo, deu-nos um Estado Nacional (ainda que escravista), condição básica para consolidação de uma Nação; a abolição da escravidão eliminou o principal entrave a expansão do “trabalho livre” e do capitalismo; a proclamação da República criou as condições político-institucionais para a constituição de um Estado de tipo burguês e a revolução de 1930, ao deslocar a hegemonia dos setores agrário-exportadores, abriu o caminho para consolidação da burguesia brasileira no poder, a expansão da industrialização e a constituição de uma cidadania ainda que limitada. Por esse caminho peculiar de uma revolução burguesa "a fogo lento", as relações de produção capitalistas foram se tornando hegemônicas. Esta era uma das condições indispensáveis para o desabrochar de uma outra revolução, mais bela e generosa: a revolução socialista”.

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